Obtenção do Qì (Dé Qì – 得气) – Por Camille Elenne Egídio

Tempo de leitura: 4 minutos

“O Qì (energia 气) gera o corpo humano assim como a água se transforma em gelo. Conforme a água se congela gerando o gelo, assim o Qì se condensa para formar o corpo humano. Quando o gelo derrete, ele se transforma em água. Quando uma pessoa morre, se transforma em espírito (shen 神) novamente. Chama-se espírito, assim como o gelo derretido passa a ser chamado de água”. (Wang Chong, AD 27-97)

A energia está em tudo. E o corpo humano é um campo de contínua movimentação de Qì, que circula  entre as células, os tecidos, os músculos e os órgãos internos.

A acupuntura atua no fluxo de energia  que circula ao longo do nosso corpo em canais específicos denominados meridianos, e é usada para acessar a distribuição desse Qì que permeia o corpo e tentar corrigir qualquer desequilíbrio apresentado. Por esta razão, uma das metas mais importante do acupunturista é a obtenção do Qì, ou seja, obter a sensação de agulhamento no ponto correto de forma que a energia seja sentida plenamente. Diz o Capítulo 1 do Ling Shu: “Quando o Qì chega, o tratamento é efetivo. Isso é o essencial da inserção.” Essa sensação dá-se após a inserção correta da agulha no acupunto e na profundidade necessária, e pode ser sentida tanto pelo paciente quanto pelo acupunturista.

No paciente, a chegada do Qì manifesta-se de diversas maneiras, tais como: entorpecimento (má 麻), inchaço (zhàng 胀), peso (zhóng 重), fadiga (kùn 困), frio (hán 寒), calor (rè 热) e o mais almejado que é o choque (chùdiàn 触电). Essas sensações geralmente aparecem próximas ao local da punção, porém podem-se propagar, subindo ou descendo o trajeto de um meridiano, bem como ainda nas regiões adjacentes ao ponto puncionado. 

Para o acupunturista, a chegada do Qì manifesta-se mais como uma sensação de aperto, como se a agulha fosse puxada, ou por uma impressão de que a agulha está sendo empurrada para fora. Espasmos musculares ao redor do ponto ou distais também são sinais da chegada do Qì que o prático deve observar.

Características importantes sobre a obtenção do Qì: 

a) nos pontos Ashi (dolorosos) geralmente a obtenção do Qì é mais fácil, especialmente se o ponto já estiver sensível ao toque; 

b) nos pontos localizados próximos às grandes articulações, tais como: VB34 ou E36, ou nas extremidades como: IG4 e F3, a sensação de choque é mais comum; 

c) nos pontos situados no centro dos ventres musculares, como por exemplo: P3 ou B57 são comuns espasmos musculares; 

d) nos pontos de reunião, tais como: Ba6 ou VB39, o Dé Qì é obtido com grande facilidade; 

e) ainda é comum ocorrer do paciente continuar sentindo a picada de um determinado ponto mesmo após a retirada da agulha, isso é desejável, pois direciona a energia do paciente para o local, prolongando o efeito da terapia. No entanto, nem todos os pacientes irão gostar disso, por isso para diminuir o desconforto, é bom massagear os pontos agulhados no sentido do fluxo do meridiano após a punção. 

Geralmente quando o paciente está muito debilitado, seja por apresentar alguma doença crônica ou simplesmente por estar cansado, o Qì não chega rápido à agulha ou a sensação é muito fraca. Porém, se no decorrer das sessões as sensações se tornam mais fortes, isso é um excelente indício de que o tratamento está funcionando e o paciente está melhorando. Se a obtenção do Qì é diferente de um lado a outro do corpo, isso indica claramente que a energia está desequilibrada, mas tenha certeza primeiro de que você agulhou corretamente os dois lados, pois pontos e/ou inserções diferentes, obviamente, gerarão sensações diferentes mesmo. 

Enfim, como diz o Capítulo 54 do Su Wen: “Esteja o Qì distante ou próximo, seja a puntura superficial ou profunda, o objetivo é sempre fazer chegar o Qì.”. Portanto, quando a localização do ponto é escolhida corretamente e a agulha é inserida adequadamente, a chegada do Qì deve ocorrer naturalmente, porém se não há nenhuma manifestação, o acupunturista deverá empregar as manipulações da agulha para atingir o Qì e assim buscar obter tais sensações.

Veja nesse link: https://www.youtube.com/watch?v=SR7lUIJrznQ técnicas de obtenção de Qì realizadas num hospital de Pequim/China. 

Boas práticas a todos, sempre com muito Dé Qì ! 

Camille Elenne Egídio é acupunturista há mais de 15 anos, professora e coordenadora-geral dos cursos do Instituto Long Tao. 

11 Comentários


    1. Obrigada por participar do nosso blog.
      Atenciosamente, Camille Elenne Egídio – Diretora-Geral do Instituto Long Tao.

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  1. Muito bom ter essa explanação tão clara!
    Adorei.
    Espero ver mais!!!
    Obrigada Camilla sua linda!!!

    Responder

    1. Olá Irene, fico feliz que tenha gostado. =)

      Obrigada por participar do nosso blog.

      Att.,
      Camille Elenne Egídio – Diretora Geral do Instituto Long Tao.

      Responder

  2. GOSTARIA DE RECEBER ATRAVÉS DO MEU FACEBOOK, INFORMAÇÕES DO ENDEREÇO, PARA TRATAMENTO DO DR. HEITOR CALADO

    Responder

    1. Olá Lindinalva, não temos contato com este senhor Heitor Calado.
      Obrigada pelo seu contato de qualquer maneira.
      Att, Camille Elenne Egídio – Diretora Geral do Instituto Long Tao.

      Responder

    1. Olá Sonia, nós da Equipe Long Tao ficamos muito felizes que tenho apreciado a nossa matéria.

      Obrigada por participar do nosso blog,
      Camille – Diretora-Geral do Instituto Long Tao.

      Responder

    1. Olá Maria Cristina, fico feliz que tenha gostado da nossa matéria.

      Obrigada por participar do nosso blog!

      Cordialmente,
      Camille Elenne Egídio – Diretora-Geral do Instituto Long Tao.

      Responder

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