Depressão – Por Aline Cristina Fadini

Tempo de leitura: 5 minutos

Sobre a depressão

Depressão como a doença do século, depressão como sintoma, depressão como estado melancólico. Este tema tem sido cada vez mais presente em nosso cotidiano. Independente do diagnóstico ou causa principal, vemos o estado depressivo acometer idosos e crianças, doentes e saudáveis, sem prévio critério e previsão.

Precisamos falar sobre as emoções que temos vivenciado em comum, sobre as emoções que emergiram em uma cultura à qual todos nós pertencemos. Não é coincidência dividirmos experiências semelhantes que nos provocam reações parecidas. Somos todos seres humanos e, sendo de uma mesma espécie, evoluímos física e emocionalmente conforme as experiências individuais e pertencentes a um grupo.

Todos temos sido acometidos, cedo ou tarde, a um período depressivo, um estado de desconhecimento de si mesmo, uma fase escura. Deixando de lado os termos técnicos, os tratamentos alternativos e/ou crenças religiosas; podemos falar sobre esta experiência como uma escuridão que atingiu ou ainda atingira a todos nós, afetando nosso coração, pensamentos e corpo físico.

Sobre nossa cultura

O problema é que, não fomos ensinados a lidar com nada disso. Não fomos ensinados a desenvolver nossa intuição e a evoluir como espécie. Fomos ensinados a trilhar uma vida pré-programada, seguindo padrões e valores pré-existentes. Muitos chegam a um ponto que, após cumprir a lista do que “deveriam” fazer, não encontram nenhum sentimento de conquista ou realização.

Fomos ensinados a obedecer às regras e autoridades, a rotular pessoas e situações. Sendo assim, não toleramos o erro, não compreendemos o diferente, não desenvolvemos a resiliência perante o inesperado e raramente é possível sustentar habilidades essenciais como compaixão, perdão e aceitação.

Se nós fomos educados e condicionados a categorizar pessoas e experiências como adequadas e inadequadas, como poderíamos ainda pertencer a um grupo (aonde crescimento é fundamental) se não toleramos o erro? Se não fomos ensinados a amar e aceitar o outro com suas limitações e desacertos, fica impossível amar a si mesmo quando NÓS estivermos na posição de quem erra e tem limitações.

Reconhecendo a escuridão

E esse momento há de chegar, cedo ou tarde. Esse momento é a escuridão. De início, resistimos ao que está acontecendo. A avalanche de emoções aumenta conforme tentamos nos entorpecer com remédios e/ou  enquanto nos vitimizamos atribuindo a “culpa” de nossa situação a um acontecimento ou pessoa.

Queremos que as coisas sejam como eram antes e sentimos falta daquela pessoa que costumávamos ser. Porém, aquela pessoa que costumávamos ser, foi quem nos trouxe até aqui. O segredo é não fugir da escuridão, e sim, abraça-la.

Abrace a escuridão

Pode não parecer, mas o momento é de fato uma oportunidade. Existem grandiosidade e sabedoria dentro de você. Seu corpo sabe disso, e quer que você se cure. Seu corpo sabe que você não é aquilo que você pensa, não é aquilo que você viveu até agora e, acima de tudo, não é aquela pessoa que achou que fosse.

Essa pessoa é uma identidade apenas, formada por uma cultura e por um conjunto de experiências. Assim, seu corpo vai chamar sua atenção da forma que pode, até consegui-la. Ele quer que você seja quem verdadeiramente é. Escute!

Infelizmente sabemos que, não são os momentos felizes que nos fazem humildes e abertos a nos transformarmos. Os momentos felizes reforçam nosso ego, nosso falso-eu. Reforçam a ideia que temos controle sobre as coisas, que somos poderosos e inatingíveis. A dor vem pra relembrar nossa natureza humana, nossa verdadeira essência. A dor nos faz humilde, nos faz baixar guardas e reavaliarmos se as coisas são mesmo assim.

Esse é o momento para abandonar todas suas ideias e convicções. Esse é momento de renascer, já que seu antigo-eu, ou falso-eu, não deu conta do recado. Seu falso-eu foi criado para se encaixar num sistema. Seu verdadeiro eu, por outro lado, veio para acrescentar mais de si a qualquer sistema.

Você não foge da escuridão, você entra nela.

Comece por aquilo que você pensa que sabe. Sua opinião a respeito do outro é um bom começo sobre o que pensa de si mesmo e o que precisa ser curado. Sua experiência até agora precisa ser reavaliada, talvez as coisas não tenham sido como você achou que fossem.

Durante a escuridão, você precisa ressignificar sua experiência de vida, sua história. Para isso, é necessário voltar ao passado em alguns momentos cruciais e olhar por outra perspectiva: Talvez você não tenha sido uma vitima naquela situação. Talvez aquela pessoa que você condenou não estava tão errada sobre você. Talvez seus pais fizeram o que podiam, e acredite, todos eles fazem o que podem.

Faça as perguntas certas, seu verdadeiro-eu sabe a resposta. Quanto maior sua raiva, mágoa ou rancor a respeito de alguém ou de uma situação, maior seu trabalho naquele aspecto. Avalie, ressignifique e então largue o assunto. Perdoe a situação, perdoe as pessoas envolvidas, perdoe a si mesmo.

Saiba que você esta criando uma nova consciência. Você poderá reconhecer a grandeza de si mesmo e das pessoas a respeito de tudo. Vai perceber que está no caminho certo quando sua percepção for aumentando e sua compaixão substituindo o lugar do julgamento.

Quando você aprender a amar e respeitar a escuridão em você, perceberá a grande professora que ela é.

Abrace a escuridão.

Aline Cristina Fadini – Psicóloga Clínica (CRP-SP 06/138647).

2 Comentários


  1. Interessante, me parece uma grande viagem buscando verdades., se e que existe verdades nesta escuridão.pois cada um de nós nessa unicidade de nossa existência .trilhamos sempre convictos.que chegaremos.mas nem sempre acertamos.será a necessidade de nos desnudar.e aprender sempre a reaprender!

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    1. Olá Maria Aparecida, ficamos felizes com seus comentários.

      Obrigada por participar do nosso blog,
      Camille – Diretora-Geral do Instituto Long Tao.

      Responder

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